A julgar pela quantidade e frequência dos lançamentos, a impressão é de que a indústria hoteleira no Rio de Janeiro vai de vento em popa. Recapitulando:
- A Odebrecht anunciou a construção de dois hotéis, com total de 450 quartos, no Santo Cristo, local que faz parte do processo de revitalização da região portuária;
- Foi lançada em novembro a pedra fundamental do Grand Mercure Riocentro, hotel quatro estrelas com 360 apartamentos que será inaugurado em 2014, para hospedar profissionais que vão trabalhar no Centro Internacional de Transmissão (IBC) da Copa do Mundo;
- A Infraero publicou edital de licitação para conceder à iniciativa privada uma área de 13 mil metros quadrados do Aeroporto Santos, onde haverá um hotel e um centro de convenções;
- Misto de hotel e condomínio de luxo, o Grand Hyatt Rio, com 436 quartos, será o primeiro da cadeia americana no estado e começa a ser erguido nos próximos dias, de frente para a praia da Barra da Tijuca;
- As duas últimas casas da Avenida Atlântica, em Copacabana, serão transformadas em hotéis – a que abriga atualmente o Consulado da Áustria, no Posto 6, dará lugar a um cinco estrelas da rede Emiliano; e a famosa “Casa de Pedra”, próxima à Rua Santa Clara, comprada por um empresário dono de restaurantes, será substituída por um hotel.
Parece uma corrida. E é. O problema é que no momento, dadas a estagnação dos últimos anos e os entraves de regulação local que inibiram investimentos, o Rio corre atrás do prejuízo. A meta é alcançar a meta estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que exige da cidade 40.000 leitos de hotel com três estrelas ou mais até 2016. Hoje, são pouco mais de 26.000. A comparação com Londres mostra a distância da infraestrutura de hospedagem entre as duas cidades. A capital inglesa dispõe de mais de 120.000 quartos.
A capacidade de hospedagem londrina provocou até uma espécie de anticlímax para os estrangeiros que estiveram na sede dos Jogos de 2012 durante a competição. Quem esperava por hotéis superlotados por causa do maior evento esportivo do mundo surpreendeu-se com a facilidade para fazer reservas. É verdade que o preços às vésperas da Olimpíada também colaborou para esse “esvaziamento”, mas a oferta era tal que falta de leitos nunca foi uma preocupação dos organizadores.
Já para o Rio alcançar seu objetivo, as obras dos novos hotéis precisam começar no máximo até o fim de 2013. Caso contrário, não haverá tempo suficiente para que fiquem prontas a tempo da chegada das delegações, jornalistas, funcionários de empresas ligadas ao evento e, claro, do público. Segundo o último relatório de acompanhamento da situação de hospedagem elaborado pela Secretaria Municipal de Urbanismo, atualmente há 9.116 quartos em construção ou licenciados. Há ainda 8.693 em fase de análise ou consulta. Parte desses corre risco de ficar no papel – afinal, a licença dada pelo município nada mais é que a autorização para construir, algo bem distante da certeza de que há o investidor e de que as obras estão em andamento.
Apesar de a ampliação do número de quartos ser a parte mais complexa, demorada e cara, esta não é a preocupação principal dos organizadores da Olimpíada brasileira. Para 2016, é dada como certa a utilização de alojamentos temporários, como os transatlânticos que devem aportar apenas para funcionar como hotéis. Ou seja: assim como o aperto de prazo e espaço não foi problema para a realização da Rio+20, em junho deste ano, o número de acomodações não deve ser um problema em 2016.
O desafio, no momento, é como qualificar tanta gente em tão pouco tempo para receber bem os turistas. Dobrar o número de vagas em hotéis significa, em tese, um aumento proporcional no número de funcionários treinados para toda a cadeia de serviços, grande parte deles bilíngue. A oportunidade é proporcional ao tamanho do problema. A partir de 2016, a preocupação do setor hoteleiro será como manter uma taxa de ocupação que sustentem e garantem o retorno do investimento. Mais uma vez, não há motivo para afobação. Como em qualquer corrida, dá-se um passo de cada vez.
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